22 abril 2005

o tempo

Depois que soube que ia ser pai, algumas questões que normalmente já me fazem pensar, ganharam um peso ainda maior. O tempo, ou a falta de tempo melhor dizendo, é uma delas. Afinal eu sei que não vai ser fácil conciliar as coisas. Mas, definitivamente, quero ter muito tempo para Sofia quando ela chegar.
E pensando sobre isto, acabei 'cometendo' este texto.
.....
Quando comecei a trabalhar, fazia jornais e revistas. O processo de fazer um jornal era longo e cansativo. Gastava-se dias para fazer um simples tablóide de 4 páginas. Primeiro vc tinha que contar as linhas de texto nas laudas, calcular os toques, riscar um grid, diagramar as páginas (alguém lembra como se fazia isto antes do computador?), mandar para uma empresa onde o texto seria datilografado numa moderníssima 'composer', depois as tiras de papel voltavam para vc que iria então recortá-las, colar no past-up, tomando o maior cuidado com alinhamentos, resolver problemas de textos que estouravam ou ficavam pequenos, marcar o corte das fotos, finalmente enviar tudo - past-up, fotos e imagens - para o fotolito onde as fotos seriam escaneadas e posicionadas, e depois para a gráfica.
Sem falar que este processo, que hoje é feito quase todo por uma única pessoa, envolvia outras pessoas, muitas pessoas.
Entre uma etapa e outra sempre sobrava tempo para um cafezinho, um dedo de prosa com o jornaleiro, ficar esperando aquela secretária linda do escritório do outro lado da rua aparecer, uma visita a um sebo pra procurar alguma raridade escondida entre Seleções do Reader Digest e Manchetes. Tudo num ritmo quase paquidérmico, comparado ao frenesi da vida neste início (caramba, ainda é apenas o início) de século...

Hoje se minha máquina demora 3 minutos para renderizar uma imagem quando deveria levar apenas 1 minuto, por qualquer problema, a gente esperneia, fica bravo. Afinal os prazos encolheram, a cobrança aumentou e onde antes se fazia um trabalho, hoje a gente faz três ou quatro. E sozinho.
A produtividade vai bem, obrigado. A família, penhoradamente, agradece.

Esta semana, na faculdade, foi colocado um trabalho. Todos os colegas, sem exceção, foram pra casa "fazer no computador". Peguei minha tesoura, minha cola e meus papéis e resolvi fazer na unha. Fiquei na sala fazendo minhas colagens, demoradas, com todas as imperfeições inerentes. E redescobrindo o tempo.

Garanto que não se trata de um surto de ludicismo fora de hora, nem alguma tecnofobia barata da minha parte. Não, nada contra as novas tecnologias, muito pelo contrário. Apenas queria saber onde foi que perdemos o bonde. Quando foi que nos fizeram acreditar que nossa felicidade estava atada à nossa produtividade. Como foi que conseguiram nos fazer acreditar que um 'network' vale mais do que boas e sinceras amizades. Desinteressadas mesmo. Quando foi que conseguiram fazer a gente esquecer que esperar faz parte. De querer tudo pra já, pra ontem. Como foi que nos fizeram esquecer do real valor do tempo.

Hoje tenho um dinossauro de 867 MHz na mesa. Os chips evoluem numa velocidade que é difícil acompanhar, e a obsolescência planejada nunca foi tão eficiente. Não demora muito teremos máquinas que processam na velocidade do pensamento... Maravilha. Tomara que ainda tenhamos algo em que pensar quando este dia chegar. Que não seja o próximo 'job', é claro.

f A r g a s

1 Comments:

At 1:38 AM, Blogger Sosoblog-alemanha said...

Fau,vi o untrason e achei a Sofia a sua cara.
Solange

 

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